Por Fábio de Mattos
Faz algum tempo que assisti no Globo News uma reportagem sobre como estão vivendo os sobreviventes do genocídio em Ruanda, em 1994. Isso me fez recordar muitas coisas que já li e ouvi sobre essa tentativa de exterminar o povo tutsi nesse país africano. Mais de 800.000 pessoas dessa etnia foram mortas, na sua maioria por golpes de paus e facões.
O Filme ”Hotel Ruanda” de 2004 traz esta história contada de maneira muito fiel (segundo alguns historiadores). Nesse filme me chama a atenção um diálogo entre um cidadão ruandês e um repórter europeu que trabalhou cobrindo os fatos desse terrível conflito. O diálogo foi mais ou menos esse:
Ruandês: “Você veio, isso é bom. Você é estrangeiro, e quando mostrar essas imagens para o mundo, eles virão no ajudar!”
Repórter: “Não. Eu sinto muito, mas eles não virão. Sabe por que eles não virão? Porque eles não se importam. Estarão em suas casas, jantando na frente da TV quando ouvirem as notícias do que está acontecendo aqui. Por um instante eles vão parar de comer e comentar, lamentando sobre o que estão vendo, sobre o que esta acontecendo aqui, mas depois voltarão a comer e em breve esquecerão.”
Esse pequeno diálogo nos mostra um pouco do que aconteceu em Ruanda no ano de 1994. Esse acontecimento chocou o mundo, mas parece que não o suficiente para que se tomassem medidas externas eficazes contra o massacre. Os motivos para tal omissão podem parecer os mais variados: política, poder, dinheiro, medo, etc. Mas quando paramos para pensar melhor e refletir olhando para a vida de Jesus, a resposta mais coerente me parece ser a de que realmente faltou compaixão por essas pessoas.
Em todo o mundo, milhares de líderes políticos e pessoas influentes de todas as áreas da sociedade fecharam os olhos para Ruanda. A Igreja em muitas partes do mundo fechou os olhos para Ruanda. Cristãos fecharam os olhos para Ruanda. Por favor, entenda por Ruanda: pessoas, famílias, histórias de vidas cheias de sonhos.
Certa vez conversando com a mãe de um adolescente que eu e alguns amigos procuramos ajudar por algum tempo, ela me disse as seguintes palavras: “Moço dê alguns conselhos pro Eliseu (nome fictício), pois eu não quero perder mais um filho por causa de drogas.” Infelizmente não pude ou talvez não tenha me esforçado o bastante (realmente ainda não sei) para ajudar Eliseu. Há alguns meses, recebi a notícia de sua morte. Muitas vezes me vem à mente as palavras de sua mãe. Esta mulher é um exemplo dos gritos angustiados da realidade pobre e abandonada das periferias brasileiras e do mundo.
A Ruanda de 17 anos atrás necessitou de socorro, mas ele foi negado pelo resto do planeta. Há tempo, porém, para agirmos diferente em nosso próprio contexto de caos, repleto de pessoas oprimidas e sem amparo. Em nosso meio as pessoas estão pedindo socorro, muitas vezes de maneira silenciosa, sufocadas por seus sofrimentos e angustias. Os “Eliseus” e suas mães, pais, esposas e filhos estão por aí. Em cada esquina é possível encontrá-los. Em cada rua é possível ouvi-los. Resta para nós tomarmos a decisão de não nos omitirmos e assim como fez Jesus, sermos compassivos e agirmos. Estamos necessitados de vivermos e praticarmos a missão de Deus (Missio Dei) na sua integralidade.
Abração, fiquem com Jesus!
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