sábado, 12 de março de 2011

THE JOSHUA TREE


        Por Sandro Baggio




     Eu me lembro exatamente o dia em que o Haroldo, um aluno do seminário, me fez a seguinte pergunta: “Cara, você sabia que aquela banda de rock U2 é cristã?” Diante de minha expressão atônita, ele continuou: “Eu assisti um video deles e fala sobre um lugar onde as ruas não têm nome…  Cara, a música é sobre o céu!” Isto foi em março de 1988, um ano depois de The Joshua Tree ter sido lançado pela banda e se tornado um dos maiores discos de rock da história.
      Com a curiosidade aguçada pelo comentário do Haroldo, comprei um cassete de The Joshua Tree na próxima vez que estive em São Paulo para visitar minha família. Naquela noite ouvi Where the Streets Have No Name, Still Haven’t Found What I’m Looking For e With or Without You pela primeira vez. Minha música favorita era o rock pesado e heavy metal, então a sonoridade do U2 não me cativou de imediato. Mas à medida em que escutava aquelas músicas, elas pareciam crescer em mim, mexiam com minhas emoções, expandiam meu horizonte musical e desafiavam meus conceitos sobre o que era “música cristã” (eu ainda separava a música entre cristã e não-cristã, sagrada e profana, na época).
       Afinal, eu poderia buscar vislumbres do céu em Where the Streets Have No Name (anos mais tarde eu entenderia que a frase fora inspirada na observação que Bono fez das ruas sem nome na Etiópia onde ele havia passado dois meses com sua esposa ajudando num campo de refugiados) ou interpretar With or Without You como se referindo a Deus (na verdade, era sobre o relacionamento entre Bono e sua esposa), mas francamente, não sabia o que fazer de Still Haven’t Found What I’m Looking For, uma letra que falava de dúvida (e não havia muito espaço para dúvida em minha teologia), ou outras faixas do disco que não tinham uma mensagem explicitamente “cristã”. Foi somente com o passar do tempo, ouvindo outros discos da banda e conhecendo um pouco mais de sua história que percebi o quanto das crenças cristãs abraçadas por Bono, Edge e Larry (Adam era o único “descrente” da banda) em sua adolescência encontravam ecos em suas músicas.
      The Joshua Tree fez de mim um fã do U2. Comprei todos os discos anteriores e posteriores (e suas edições comemorativas remasterizadas quando saíram), os VHSs (e depois as edições em DVDs também), li uma dúzia de livros sobre a banda (dos quais considero Until the End of the World de Bill Flanagan como o melhor), assisti a banda ao vivo em 2005 e estou contando os dias para o show em São Paulo no próximo mês.
      Hoje, 24 anos depois de ter sido lançado, The Joshua Tree é um dos meus discos favoritos. Graças a generosidade de uma amiga, ganhei o box da edição especial remasterizada em 2007. De vez em quando, pego-me voltando para suas melodias em busca de inspiração e para ser provocado novamente pelas idéias por trás de suas letras.
        Para quem deseja conhecer mais sobre a fé expressa na música do U2, recomendo a leitura de Walk On – A Jornada Espiritual do U2 escrito por Steve Stockman.


(Sandro é pastor do Projeto 242 em São Paulo, escritor, músico e tradutor)

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