terça-feira, 29 de março de 2011

OS EVANGÉLICOS E A SUA PARTE NA CORRUPÇÃO DA POLÍTICA BRASILEIRA

         Por Fábio de Mattos
         (Texto escrito em 2010 (ano de eleições), mas vale a pena dar uma lida agora)

 
     Em muitos países do mundo há corrupção nos mais diversos níveis de poder. Parece que quanto mais o tempo passa, mais os homens que governam as nações politicamente independentes do mundo se corrompem no governo. No Sudão, no Iraque, na Argentina, na Bolívia, na Itália, na China ou em outros países a corrupção faz parte dos cenários políticos.

      No Brasil, convivemos com uma das realidades políticas mais corruptas do mundo. A cada ano que passa nos deparamos com homens e mulheres que agem como se a população fosse sem vontade e opinião próprias. Sarney, Genoíno, Arruda, Pita, Maluf, Sergio Moraes, Daniel Dantas entre outros, olham para as câmeras de televisão e discursam como se nada do que se investiga, processa ou se denuncia sobre eles fosse verdade. Arnaldo Jabor diz que isso é a “desmoralização do escândalo“, pois nem ele, o escândalo, é respeitado mais. Diz ele isso, pois crê que a verdade já foi desmoralizada e perdida há muito tempo no meio político brasileiro.

      No lado "evangélico" desse caos, muitos políticos crentes, nos quais os cristãos são orientados a votarem, dão testemunho irresponsável, nocivo e pecaminoso. São mais corruptos do que podemos imaginar. Lembro-me de quando participei de uma reunião de pastores de certa denominação. Um dos pastores, na época deputado federal pelo Rio Grande do Sul, falava sobre como outro pastor também deputado federal, mas por Minas Gerais (reeleito neste ano), o encorajava a participar de algumas atividades ilícitas para poder enriquecer. Confesso que isso não me surpreendeu, pelo menos não tanto quanto deveria.

      Em quanto isso, milhões de crentes brasileiros acreditam ser Deus que esteja levantando alguns destes homens para governarem o Brasil. Creio plenamente, não ser vontade de Deus colocar homens e mulheres egoístas, hipócritas e que se dizem pastores, mas que infelizmente parecem serem ordenados somente pelas denominações, mas não comissionados por Deus. Não quero generalizar, mas infelizmente me parece que uma grande parte dos políticos brasileiros, incluindo os evangélicos, são corruptos de uma maneira ou outra. Existem bons políticos, mas me parece não serem a maioria. No congresso nacional, de cada dez deputados, quatro respondem a processos judiciais, ou seja, esses são os que praticam atividades ilícitas de maneira a serem notados. Existe outra porcentagem que infelizmente ainda consegue se esconder do Ministério Público e da mídia.

      Em quanto muitos usam as igrejas brasileiras como maneira de alavancar as campanhas políticas, outros vão além, usam a estrutura eclesiástica como ferramenta para oprimir outros pastores e membros das igrejas. Fazem da organização uma diabólica ferramenta que transveste objetivos e interesses próprios em “propósitos divinos”. Concordo com Paul Freston, acredito que a Igreja, como corpo de Cristo, deva influenciar politicamente a sociedade de maneira que beneficie toda a sociedade e todas as pessoas e não somente as denominações, quem é crente ou se esconde atrás do status de evangélico.

      Neste ano em que já votamos uma vez, gostaria de poder ver todos nós votando com mais consciência nesse segundo turno. O pecado esta no ato de votar mal, e votar mal pode ser votar em um político não crente ou em um crente. Que possamos votar levando em conta o caráter do candidato e não sua religião. Que possamos levar em conta se ele tem valores familiares e morais e não se tem influência dentro de determinada denominação. Que possamos levar em conta se ele ama a Deus de verdade e não se ele é eloqüente e persuasivo! Quando alguém governa debaixo de corrupção ou simplesmente governa mal, pessoas deixam de estudar, comer, morar, crescer como deveriam. Para um político corrupto, uma vida não vale nada, mas nosso consolo e que para Deus uma vida vale tudo. A missão da Igreja é integral, diga não a políticos corruptos.

      Abração, fiquem com Jesus!


(Fábio é pastor do Espaço Nova Geração e estudante de teologia)

sábado, 12 de março de 2011

THE JOSHUA TREE


        Por Sandro Baggio




     Eu me lembro exatamente o dia em que o Haroldo, um aluno do seminário, me fez a seguinte pergunta: “Cara, você sabia que aquela banda de rock U2 é cristã?” Diante de minha expressão atônita, ele continuou: “Eu assisti um video deles e fala sobre um lugar onde as ruas não têm nome…  Cara, a música é sobre o céu!” Isto foi em março de 1988, um ano depois de The Joshua Tree ter sido lançado pela banda e se tornado um dos maiores discos de rock da história.
      Com a curiosidade aguçada pelo comentário do Haroldo, comprei um cassete de The Joshua Tree na próxima vez que estive em São Paulo para visitar minha família. Naquela noite ouvi Where the Streets Have No Name, Still Haven’t Found What I’m Looking For e With or Without You pela primeira vez. Minha música favorita era o rock pesado e heavy metal, então a sonoridade do U2 não me cativou de imediato. Mas à medida em que escutava aquelas músicas, elas pareciam crescer em mim, mexiam com minhas emoções, expandiam meu horizonte musical e desafiavam meus conceitos sobre o que era “música cristã” (eu ainda separava a música entre cristã e não-cristã, sagrada e profana, na época).
       Afinal, eu poderia buscar vislumbres do céu em Where the Streets Have No Name (anos mais tarde eu entenderia que a frase fora inspirada na observação que Bono fez das ruas sem nome na Etiópia onde ele havia passado dois meses com sua esposa ajudando num campo de refugiados) ou interpretar With or Without You como se referindo a Deus (na verdade, era sobre o relacionamento entre Bono e sua esposa), mas francamente, não sabia o que fazer de Still Haven’t Found What I’m Looking For, uma letra que falava de dúvida (e não havia muito espaço para dúvida em minha teologia), ou outras faixas do disco que não tinham uma mensagem explicitamente “cristã”. Foi somente com o passar do tempo, ouvindo outros discos da banda e conhecendo um pouco mais de sua história que percebi o quanto das crenças cristãs abraçadas por Bono, Edge e Larry (Adam era o único “descrente” da banda) em sua adolescência encontravam ecos em suas músicas.
      The Joshua Tree fez de mim um fã do U2. Comprei todos os discos anteriores e posteriores (e suas edições comemorativas remasterizadas quando saíram), os VHSs (e depois as edições em DVDs também), li uma dúzia de livros sobre a banda (dos quais considero Until the End of the World de Bill Flanagan como o melhor), assisti a banda ao vivo em 2005 e estou contando os dias para o show em São Paulo no próximo mês.
      Hoje, 24 anos depois de ter sido lançado, The Joshua Tree é um dos meus discos favoritos. Graças a generosidade de uma amiga, ganhei o box da edição especial remasterizada em 2007. De vez em quando, pego-me voltando para suas melodias em busca de inspiração e para ser provocado novamente pelas idéias por trás de suas letras.
        Para quem deseja conhecer mais sobre a fé expressa na música do U2, recomendo a leitura de Walk On – A Jornada Espiritual do U2 escrito por Steve Stockman.


(Sandro é pastor do Projeto 242 em São Paulo, escritor, músico e tradutor)

quinta-feira, 10 de março de 2011

RUANDA, ELISEU E NOSSAS AÇÕES (NÃO) COMPASSIVAS

Por Fábio de Mattos




Faz algum tempo que assisti no Globo News uma reportagem sobre como estão vivendo os sobreviventes do genocídio em Ruanda, em 1994. Isso me fez recordar muitas coisas que já li e ouvi sobre essa tentativa de exterminar o povo tutsi nesse país africano. Mais de 800.000 pessoas dessa etnia foram mortas, na sua maioria por golpes de paus e facões.

O Filme ”Hotel Ruanda” de 2004 traz esta história contada de maneira muito fiel (segundo alguns historiadores). Nesse filme me chama a atenção um diálogo entre um cidadão ruandês e um repórter europeu que trabalhou cobrindo os fatos desse terrível conflito. O diálogo foi mais ou menos esse:

Ruandês: “Você veio, isso é bom. Você é estrangeiro, e quando mostrar essas imagens para o mundo, eles virão no ajudar!”

Repórter: “Não. Eu sinto muito, mas eles não virão.  Sabe por que eles não virão? Porque eles não se importam. Estarão em suas casas, jantando na frente da TV quando ouvirem as notícias do que está acontecendo aqui. Por um instante eles vão parar de comer e comentar, lamentando sobre o que estão vendo, sobre o que esta acontecendo aqui, mas depois voltarão a comer e em breve esquecerão.” 

Esse pequeno diálogo nos mostra um pouco do que aconteceu em Ruanda no ano de 1994. Esse acontecimento chocou o mundo, mas parece que não o suficiente para que se tomassem medidas externas eficazes contra o massacre. Os motivos para tal omissão podem parecer os mais variados: política, poder, dinheiro, medo, etc. Mas quando paramos para pensar melhor e refletir olhando para a vida de Jesus, a resposta mais coerente me parece ser a de que realmente faltou compaixão por essas pessoas. 

Em todo o mundo, milhares de líderes políticos e pessoas influentes de todas as áreas da sociedade fecharam os olhos para Ruanda. A Igreja em muitas partes do mundo fechou os olhos para Ruanda. Cristãos fecharam os olhos para Ruanda. Por favor, entenda por Ruanda: pessoas, famílias, histórias de vidas cheias de sonhos.  

Certa vez conversando com a mãe de um adolescente que eu e alguns amigos procuramos ajudar por algum tempo, ela me disse as seguintes palavras: “Moço dê alguns conselhos pro Eliseu (nome fictício), pois eu não quero perder mais um filho por causa de drogas.” Infelizmente não pude ou talvez não tenha me esforçado o bastante (realmente ainda não sei) para ajudar Eliseu. Há alguns meses, recebi a notícia de sua morte. Muitas  vezes me vem à mente as palavras de sua mãe. Esta mulher é um exemplo dos gritos angustiados da realidade pobre e abandonada das periferias brasileiras e do mundo. 

A Ruanda de 17 anos atrás necessitou de socorro, mas ele foi negado pelo resto do planeta. Há tempo, porém, para agirmos diferente em nosso próprio contexto de caos, repleto de pessoas oprimidas e sem amparo. Em nosso meio as pessoas estão pedindo socorro, muitas vezes de maneira silenciosa, sufocadas por seus sofrimentos e angustias. Os “Eliseus” e suas mães, pais, esposas e filhos estão por aí. Em cada esquina é possível encontrá-los. Em cada rua é possível ouvi-los. Resta para nós tomarmos a decisão de não nos omitirmos e assim como fez Jesus, sermos compassivos e agirmos. Estamos necessitados de vivermos e praticarmos a missão de Deus (Missio Dei) na sua integralidade. 

Abração, fiquem com Jesus!


segunda-feira, 7 de março de 2011

É POSSÍVEL NÃO FAZER SEXO ANTES DO CASAMENTO?

           Por Márcio Coyote




       Antes de escrever este texto, resolvi passear pelo Orkut e em blogs para ver o que a galera tem conversado sobre sexo. 

         Os livros e boa parte do material cristão sobre o assunto são medievais ou extremistas. Sinceramente, em minha “solteirice”, não achei nada muito útil. Para início de conversa, temos de admitir: sexo é bom -- na realidade, é muito bom! Sem falar das cobranças que os jovens têm, tanto da sociedade como da mídia, para se relacionarem antes do casamento. Tanto que as campanhas de prevenção à aids dizem: “Transem, mas transem com camisinha”! 


          Já ouvi muito a respeito desse tema. Entre tantas histórias, está a de que nos tempos bíblicos não existia o casamento em si. O ato sexual já era o casamento. Lendo um livro do teólogo Russel Champlin, refleti sobre algumas informações significativas. Por exemplo, existiam as cerimônias de casamento tanto públicas como particulares e algumas envolviam vestes especiais (Sl 45.13-14). As noivas usavam joias (Is 61.10) e cobriam-se com véus (Gn 24.65). Além disso, havia também alguns hábitos e uma cerimônia em que estavam presentes os amigos e amigas da noiva (Sl 45.14). Já o noivo, tinha um amigo especial e outros auxiliares como se fossem padrinhos! (Gn 24.65; Jz 14.11; Sl 45.13-14; Is 61.10; Mt 9.15) Enfim, não há dúvidas de que existia uma cerimônia, um ato que legalizava o casório. 

          Havia também outros elementos, como a bênção dos pais, a aliança (um acordo pessoal e tribal e os acordos escritos) e a prova da virgindade -- e o povo hebreu tratava a questão com tanta seriedade que um pano manchado de sangue tinha de ser mostrado como prova da virgindade da noiva (Dt 22.13-21). Inclusive, ao ler esses textos bíblicos, percebemos que muitas das desavenças da época eram tratadas na base das pedras! 


         A prática do casamento é uma tradição bíblica. E a relação sexual é permitida só depois do casamento. Creio que, na verdade, só há uma dúvida sobre isso: é possível não ter relação sexual antes do casamento? 

         Vi nos Orkuts crentes da vida dicas de como não cair em tentação. Uma mais ridícula que a outra. Imagino o que a galera não-cristã pensa ao ler essas dicas! 


       Um dos melhores exemplos que vi foi num programa de televisão (sou adepto da cultura inútil): uma mulher levara o namorado para o programa para brigar com ele porque ele não transava com ela. Quando o namorado foi questionado, disse que não era por causa da religião, mas porque tinha aprendido e entendia que não era legal transar antes do casamento e ponto final. A apresentadora ficou indignada com o que ele disse e ainda tentou humilhá-lo perguntando: “Mas funciona?”. 


         A resposta veio da namorada: “Deve funcionar, porque vejo a “movimentação”! 


        O público caiu na gargalhada. Porém, o rapaz continuou firme e, com educação, manteve sua posição. Nisto entrou no ar outro repórter e a apresentadora explicou a situação. A resposta dele foi fantástica: “Essa mulher está reclamando de boca cheia, está jogando fora um homem que nunca mais vai ter, um homem que não vai traí-la por nada nem por ninguém porque tem o controle de seu corpo. Quem precisa de ajuda é ela e não este rapaz!”. 


         O fantástico é a convicção que algumas pessoas, mesmo não-cristãs, têm! 


     Quando estava namorando minha esposa, tivemos nossas tentações e eram grandes, principalmente porque eu tinha certeza de que era ela a pessoa com quem iria me casar. Era também a única mulher com quem me interessava em transar. Sendo assim, os motivos pelos quais não deveríamos transar eram mínimos, mas o resumo de tudo o que passamos e o que desejo falar é o seguinte: Vale a pena esperar! 

         Você pode distorcer a Palavra de Deus... 

         Você pode se fingir de porco vesgo... 

         Você pode transar e se prevenir... 

         Mas o que eu posso te garantir, meu amigo, minha amiga, é isto: 

         Vale a pena esperar! 

 
 
         (Márcio é pastor da Comunidade Presbiteriana Refúgio em Londrina e professor na área de teologia prática) 

terça-feira, 1 de março de 2011

IMAGINAÇÃO, FANTASIA E A COERENTE ESCATOLOGIA

             Por Fábio de Mattos

 Olá pessoal! Depois de alguns dias entregue aos trabalhos da faculdade, volto a escrever aqui neste nosso espaço aberto. Entre esses trabalhos escrevi um ensaio monográfico sobre escatologia (o estudo das últimas coisas, popularmente conhecido como "o fim dos tempos"). E falando em escatologia, já observaram quantos escatologistas” de plantão temos na nossa igreja brasileira. Eles têm colaborado para que a escatologia predominantemente ensinada para nós seja fruto, em geral, de interpretações fantasiosas das Escrituras.


Parece-me que essas interpretações valorizam mais eventos   catastróficos e personagens malignos do que o próprio Cristo. Nossa imaginação nos fez acreditar em "revelações" novelescas, e  o "Deixados Para Trás" fez sucesso. As teses escatológicas parecem mais um conjunto de obras de ficção, que dão um olhar literal e fora do contexto histórico a textos como os livros de Daniel e Apocalipse. Essas interpretações equivocadas tiram o Cristo do centro da mensagem escatológica legítima: a consumação do reino de Deus. Mensagem essa que é de redenção para toda a criação.

Em João 3:16 a palavra usada para “mundo” é “cosmos”, ou seja, Deus amou toda a sua criação, por isso deu seu Filho. Cristo veio para remir toda a criação, não somente os seres humanos. Quando tenho isso em mente, meu coração se enche de esperança e não de medo. Uma interpretação equilibrada da escatologia nos trará confiança e esperança na consumação do reinado de Cristo sobre sua criação. A intenção de Deus é restaurar sua criação e não destruí-la.

Cristo é o elemento primordial do estudo escatológico, pois sem o rei não haveria razão para o estabelecimento de um reino. Ele é o alvo, o fim para o qual se dirige a história da humanidade e de toda a criação. Seu reino já está sendo estabelecido, mas ainda não foi consumado de fato. Sua consumação já começou, mas ainda não se concluiu. (Aqui penso ser importante lembrarmos que a igreja em si não é o reino, mas parte dele; a igreja também não é o único instrumento para o estabelecimento do reino, mas um dos instrumentos.)

Com certeza Cristo vem. Talvez não da forma que aprendemos em nossas igrejas de maneira geral, mas sim, Ele vem! Aí percebo o quanto é coerente e verdadeiro o seguinte pilar da reforma protestante... Solus Christus.


Abração, fiquem com Jesus.