quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

SANTA MARIA, CONSOLAÇÃO E O BESTEIROL TEOLÓGICO


Por Fábio de Mattos 

Mais uma vez, uma tragédia acontece e os teólogos de plantão começam a distribuir besteiras pela internet. Santa Maria e o Rio Grande mal começaram a prantear e as teorias da conspiração já brotam nas redes sociais. Ainda uma horda de “santos” surge dos perfis, afirmando que isso é punição de Deus, pois afinal de contas “se aqueles jovens estivessem na igreja isso não teria acontecido”. Ora, esquecemos facilmente do teto da Igreja Renascer que desabou em São Paulo em 2009 sobre uma multidão, deixando mortos e dezenas de feridos.


Como é fácil afirmar que se algo de errado acontece na vida do crente, é o diabo e se algo ocorre de errado na vida de outra pessoa, é resultado do pecado, punição de Deus. Arrotamos um falso puritanismo e de repente, vidas perdem o valor perto de nossas “brilhantes” afirmações teológicas. Tão profundas quanto uma colher.

No domingo passado, dia 27 de janeiro, eu estava em Marília no interior de São Paulo. Eu havia ido para o casamento de dois grandes amigos. Pela manhã fui ao hotel onde estavam outro grande amigo e sua família que também haviam ido para o casório. Quando entrei no saguão do hotel, logo ele chamou minha atenção para TV. “Olha ali gaúcho o que aconteceu na sua terra nessa madrugada!”. Logo que pude entender melhor o que estava acontecendo, minha primeira reação foi tentar ligar para amigos em Santa Maria. Eu sabia que eles não estavam na Boate Kiss, mas pensei em seus parentes e amigos. Naquele momento o noticiário informava que haviam 180 mortos.             


Consolo é algo complicado, pois tentamos transmiti-lo em meio a situações fortemente desfavoráveis. Algumas pessoas são consoladas no silencio, outras no aconchego das amizades e família, outras falando ou ouvindo músicas. Nosso papel, como seres humanos na consolação é bem limitado. Porém o papel de Deus é pleno e poderoso. Somos cheios de teologia própria quando se fala de sofrimento. Muitas vezes ligamos ele ao pecado, ou a um determinado comportamento. Claro que muitas vezes as aflições são resultado de nossas ações, porém não de maneira geral, pois em inúmeras vezes o sofrimento vem sem avisar, entrando em nossas vidas e sem nos dar a chance de saber porque.

Quando Jesus foi questionado se os enfermos e os que morreram na queda da torre de Siloé passaram por isso por motivo de seus pecados, ele foi assertivo dizendo que eles não eram mais culpados do que os outros homens de Jerusalém. Jó nos trás a realidade de que a tristeza também bate a porta dos bons e justos. Salomão afirmou que o sol nasce e as aflições da vida chegam tanto para justos como para injustos e o salmista ainda nos aconselha a não nos indignarmos com o sucesso do ímpio, nem com o sofrimento do justo.


Qualquer “teologia” das mentes “brilhantes” que circulam pelas redes sociais, ligando o que ocorreu em Santa Maria a alguma espécie de castigo divino àqueles jovens, está no mínimo, carente de conhecer a Palavra e o caráter de Deus. Como afirmei acima, o papel de Deus na consolação é pleno. Ele nem sempre irá evitar nosso sofrimento, mas sempre estará pronto para nos consolar. Você que afirma ser cristão, mas desconhece o caráter consolador de Deus, fique em silencio. Não distribua besteiras gratuitamente na web. Sinceramente, te alerto para o fato de que a misericórdia e a graça de Deus são o que sustentam toda humanidade, seja ela seguidora de Cristo ou não. Como seguidores de Jesus, precisamos entender que assim como Deus consola o aflito, precisamos também nos colocar nesse papel.